Eu acho que Cavaco, quando for a tomada de posse de Costa, poderá fazer questão de dar a entender de novo que preferia outra solução governativa, mas acho isso normal. Os presidentes podem ter opinião politica, mas devem tentar fazer aquilo que é mais consensual, e isso o Cavaco fez. Ele foi tb demasiado duro em um ou dois discursos, mas outros presidentes socialistas (Soares e Sampaio) foram igualmente duros em algumas situações. Acho que isso são coisas normais.
Quanto a estes pontos que apontas, estou concordante. Também penso que é a naturalidade política.
Para clarificar um pouco a minha posição sobre o tendenciosismo:
Na altura em que o Cavaco indigitou o Passos Coelho, há um mês atrás, eu considerei que era o passo lógico que devia de facto ter sido tomado. Vistas as coisas a esta distância, e depois das exigências que o Presidente fez agora ao Costa, mudei um pouco de opinião, pela forma como o Coelho foi "naturalmente aceite" para Primeiro Ministro, e precisamente pelo facto de não ter tido qualquer exigência por parte do Cavaco.
Ser tendencioso não é ter preferências, gostos, inclinações, whatever, em relação a determinadas matérias, ser tendencioso é ter dois pesos e duas medidas, consoante essas preferências.
Se a ideia do Cavaco era garantir um governo com "condições de governabilidade" (e estabilidade, e durabilidade e...), como parece ter demonstrado pelo modo como agiu em relação ao Costa/PS, então não fez absolutamente nada em relação a essa ideia com o Passos Coelho (não lhe exigiu que lhe apresentasse quaisquer garantias - pelo menos que sejam conhecidas publicamente), facto que é agravado pela configuração dos partidos na Assembleia, que em condição alguma permitiriam essas condições de governabilidade. Isto é ter dois pesos e duas medidas. Não digo que as exigências feitas ao Costa devessem ter sido iguais, ipsis verbis, para o Coelho (e lamento ter dado essa ideia nos comentários anteriores), porque obviamente as dúvidas em relação a uma união entre partidos com pilares ideológicos diferentes e partidos que partilham de um espaço muito próximo são diferentes, mas os objectivos dessas exigências, isso sim, é que deviam ser iguais (condições de governabilidade, estabilidade, durabilidade). No caso, nem sequer chegaram a existir para um dos lados. Isto é ser tendencioso.
Quanto ao facto de eu ser tendencioso, não posso negar totalmente que seja, mas até considero que sou muito pouco, pelo menos tomando como base comparativa os demais foristas do Thinkfn (tu és uma grande excepção, pelo que tenho tido oportunidade de ler, e haverá mais um ou outro que também escapam ao epíteto). Eu critico com bastante regularidade pessoas e actos, independentemente do quadrante político em que se encontram. Sou simpatizante de ideias de esquerda/centro, mas critico o Costa quando acho que ele faz asneira, tal como critico o Passos, o Sócrates (que considero o mais aldrabão e perigoso de todos), o Portas e o Cavaco. Apesar de estar naturalmente satisfeito (e esperançoso - essa palavra "esquerdista" e abominável que tanta gente detesta por aqui) com o governo que amanhã entra em funções, critico fortemente a forma como os acordos foram assinados, assim como (a ausência d') o seu conteúdo. Uma atitude que contrasta com a generalidade das intervenções aqui no fórum (e em qualquer outra parte, diga-se). Primeiro que as pessoas admitam que os partidos que apoiam, ou os seus agentes políticos erraram... UI... é um caso sério. Preferem sempre criticar os erros dos adversários, mesmo quando são os mesmos daqueles que apoiam, e remetem-se ao silêncio quando é para criticar os seus. Tendenciosismo.