Caro Thunder,
Quanto aos canais públicos em sinal aberto, a RTP1 e RTP2, apenas quis destacar que, mesmo tendo todos os defeitos e mais alguns, conseguem apresentar uma programação mais abrangente, mais dedicada à cultura e ao que é feito em Portugal que não sejam telenovelas ou reality shows. Tem uma programação mais didática e completa e não tanto "pastilha elástica", mais do mesmo. Claro que poderia ter outros moderadores, outros comentadores, tudo isso. Mas também a repulsa que a direita faz em relação à RTP leva a que as pessoas de direita se afastem dela e pouco nela participem. Pode ser isso.
Quanto ao Daniel Oliveira, há também um podcast dele com o Nuno Artur Silva sobre a televisão pública, interessante. Tenho também ouvido os podcasts dele sempre que posso (e também ouço o Sem Moderação e vejo o Eixo do Mal), e é interessante ele colocar em causa, mesmo sendo ele de esquerda, muitos dos problemas dos sindicatos, dos partidos de esquerda, etc. Destaco os podcasts com o Arménio Carlos e com o Mário Nogueira, por exemplo. E atenção que o papel dele ali é de contraditório, e não de estarem ali a alimentar a mesma ideia.
E isto leva-me aquilo que eu sempre achei: O mais importante quando se discute política é que haja contraditório sério e luta de argumentos de igual para igual. É por exemplo isso que tento quando discuto política aqui no fórum. Posso dizer que se calhar sou dos meus amigos aquele que é mais à direita, pelo meu gosto pelos mercados financeiros livres, pela meritocracia, etc. Eu sinceramente considero-me um liberal, mas à canadiana. É que não ter dinheiro para dar a educação ou cuidados de saúde necessários aos filhos sem existir um Estado Social que ajude para mim não é ser livre. Ou seja, aqui pareço um autêntico esquerdalho. enfim, gosto de estar do contra, de colocar as coisas em causa. E ainda mais no momento histórico que vivemos, em que se criam nichos nas redes sociais ou fóruns como este, em que se juntam em discussão política apenas pessoas do mesmo lado da barricada, o que impede em geral o contraditório e até algum escrutínio da informação partilhada. Não deixa de ser interessante o que se passa no Brasil acerca disto, em que a campanha a favor do Bolsonaro foi feita essencialmente pelo WhatsApp, com muita falsidade a circular sem contraditório, sem escrutínio, de forma a que as pessoas fossem sempre lendo e ouvindo aquilo que queriam ouvir para aumentar cada vez mais o seu lado reaccionário a favor dele. Digamos que até parece uma espécie de instinto tribal que está enraizado na essência humana e que o progresso civilizacional foi tentando aniquilar, mas que tende a vir ao de cima.
Cumps