Eu penso que tenho uma visão muito radical nisto porque quando era novo não sabia se podia vir estudar para Lisboa por razões financeiras, devido ao alojamento e restantes despesas (e era num tempo em que as propinas eram irrisórias - 75 euros por ano, ainda em escudos).
Os meus pais estavam naquilo que se chamava classe média baixa. Foi um esforço enorme que fizeram e, felizmente, a minha irmã tem 5 anos de diferença por isso quando eu acabei, começou ela. Seguramente não podíamos estudar os dois em simultâneo porque era impossível financeiramente.
É por isso que eu defendo, com todas as forças, que a restrição financeira não seja um entrave para ninguém como quase foram para mim.
Chegado aqui tinha duas alternativas:
- Defender que outros me pagassem o curso, o que significa que outros trabalhariam para mim uma parte da sua semana para pagar esses impostos.
- Ser eu a pagar integralmente esse curso, via empréstimo, uma vez que seria eu que dele iria beneficiar
A escolha óbvia para mim é a segunda. Os meus princípios morais (que não são superiores, nem inferiores a outros, são assim e pronto) impedem-me de pedir que alguém seja obrigado a trabalhar para me dar alguma coisa, a não ser voluntariamente. Aceito que outras pessoas não se importem com a primeira opção, embora não concorde.
A minha história é diferente e se calhar por isso não sou tão radical quanto tu. Aceito o estado reduzido, para haver menos corrupção, menos erros na decisão e para garantir o essencial, mas com liberdade de escolha individual entre o privado/público na escolha de serviços. O que interessa a um velhote que é operado às cataratas se é no público ou privado? O que interessa é que fique bem, o resto é ideologia.
Os pontos que definem a minha viragem são dois momentos bem definidos no tempo, antes disso dizia as mesmas coisas do Robaz e do Sebastião (posso inclusive ter votado no PS
). Esses momentos foram:
1º - A falência do país - pensei como era possível as pessoas boas do PS, que tanto faziam pelo povo, terem provocado a falência de um país e trazer tanto sofrimento aos portugueses? Eu nem sabia que era possível deixar falir um país
Tive corte no ordenado e fiquei mais perplexo, lembro-me de pensar "como é possível tal injustiça, fazer isso a uma pessoa da geração mais preparada de sempre?". Nesse momento quis perceber duas coisas, porque é que há pessoas que se tornam ricas e como é que os países vão à falência. Esse caminho de descoberta levou-me primeiro ao Caldeirão e depois aqui...e já percebo como se fica rico e como os países vão há falência.
2º - Experiência de vida - ao longo dos anos tenho tido contacto com a acção partidária local. Na altura, achava que acção governativa de um dado partido era má porque era um partido mau, cheio de velhos, vícios, conservador e que privilegiava o capital. Quando perdeu as eleições, para pessoal novo, sem vícios, saídos da classe média, com a mente aberta, só me faltou andar de bandeirinha e estava cheio de esperança, realmente agora ia ser feita diferença. Demorou três meses para perceber que quem tinha ganho era tendencialmente pior que o partido dos velhos, só com a diferença de se darem muito ao trabalho a dizer às pessoas que não são...e o truque é que as pessoas acreditam.
Cheguei à conclusão que a génese das pessoas é muito idêntica, o que faz que com que a acção governativa de pessoas diferentes, de partidos diferentes, sejam sempre muito semelhante. Todos procuram vantagem individual para se perpetuarem ou para aceder a lugares de maior destaque/rendimento. Se nessa acção beneficiar pessoas no imediato, porreiro pá...se não azar.
A redução do estado ia fazer maravilhas por este País. Menos corrupção, menos esbanjamento de dinheiro, menos erros, menos casos na justiça...e o dinheiro podia ser canalizado para aquilo que realmente importa.
As pessoas adoram o estado porque acham que se tiverem um azar na vida vão ter um apoio. E eu digo, podem ter ou não, logo se vê...é tudo muito arbitrário e depende muito de como as pessoas se movimentam e sabem a quem aceder. Muitas vezes as pessoas mais carenciadas são excluídas e o chico-esperto chato, que anda sempre rondar, acaba por ser beneficiado, só para ver se desaparece.
Por isso, o estado falha muito e todos os dias. A ideia que vai estar lá para nos defender num momento de fraqueza, é muito simpática e confortável, mas pode não passar mesmo disso...uma ideia.