Ainda assim, não devias fechar os olhos ao que eles vêem sempre que passam por uma grande superfície comercial.
Dá-me graça de sorriso, estes cuidados pequenos pelos caprichos do povoléu e suas comadres. Não que se deva desprezar coisas pequenas e miúdas. Podem ser bem interessantes e por certo, porventura omnipresentes à cabeceira de um moribundo. E tudo é respeitável e humano. Não estou portanto a gozar. Até de minha escolha, já decidi o almofadão para a minha hora final: o da minha avó, para a mesma finalidade! :)
No entanto, as 'grandes' superfícies comerciais não valem coisa nenhuma! Não é por elas que passam os grandes negócios, mas apenas os de natureza terminal, com empregados e comerciantes consignatários precários, ambos pagos com ganhos incertos e sem futuro.
O grande comércio, a grande praça das transacções, pouco tem a ver com o consumidor final, os próprios retalhistas não passando de escoadouro de produtos invendáveis à beira da falência. O grande comércio é engenhado em toda a produção
intermediária entre o agro-silvicultor, o mineiro, as fábricas e os grandes armazéns grossistas.
Tudo se reduz a uma negociação de
stocks de produtos intermediários e de meios de produção de produtos intermediários, com o software tecnológico a dar tratos à imaginação criativa de gadgets finais com os quais se possa ludibriar o grande público, para o que se impõe emitir incultura maciça pela televisão, internet, e até produtos de tipografia que aparentam ser 'livros'!!!
A negociação de
stocks corresponde à transacção de uma quantidade física de bens, já produzida - se por encomenda de algo a produzir, a condição situacional do comprador e do vendedor é quase a mesma, por a capacidade instalada da fábrica existir pronta a laborar, o que equivale na prática a um
stock potencial - que, por exemplo, no caso da pesca pode equivaler a uma venda e recompra sucessiva da quantidade de pescado do porão da embarcação ainda antes de qualquer captura ter ocorrido, de modo a buscar a última melhor cotação de entrega! -, e este tipo de compra/venda de stocks é sempre estrénua luta stressante, onde umas vezes se ganha, outras se perde.
É a jusante deste processo esgotante que surgem as grandes superfícies comerciais, elas próprias resultado de um prévio imenso negócio imobiliário, a que ocorrem os rentistas de todos os quadrantes, esperançados numa renda futura que se veja, bafejados pela sorte se algum trespasse jeitoso alcançam ou a comprar ou a vender um espaço-loja, mas todos com a espada de Dâmocles de um negócio com
rendimentos decrescentes, com a falência no horizonte, ao cabo de sucessivas campanhas de saldos de monos.
O povoléu é o que menos importa em todo este comércio - não obstante a simpatia com que no Porto, cada cliente é sempre bem acolhido; digo bem, no Porto, porque em Lisboa, «estão-se nas tintas»! :) - porque os produtos pouco interessam, não tem utilidade nem valor intrínseco, satisfazem necessidades ilusórias, só presentes na mente por incultura e alienação induzida, pela política cultural servidora dos paquidérmicos interesses comerciais. Note-se que, mesmo no caso das mercearias dos duopolistas o embuste do povoléu é real pela baixa qualidade dos alimentos processados, de um modo geral nefastos para a saúde por formarem uma alimentação desequilibrada.
De maneira que,
como se dizia nos documentários
noticiosos, prévios dos filmes da minha infância,
«Assim Vai o Mundo!» :)