Já, há muito, que sei e não neguei
que o direito positivo, a lei em vigor,
não está a ser infringida.
O que digo, e repetirei sempre,
é que o juiz - na minha moral,
i.e., segundo a minha moral
política, não estou a impor,
estou a proclamar e
a vituperar, moral
contrária -, se
não fosse um incompetente,
gozado pela polícia e pelo governo,
há muito deveria ter-se rebelado contra
o papel que o induziram a desempenhar:
«Mandar prender um ex-primeiro ministro,
antecessor do que está em exercício, e em
quarenta e oito horas não consegue formular
uma acusação e numa semana marcar julgamento,
eu, se fosse esse juiz, cair-me-ia a cara de vergonha,
há muito que teria denunciado o estado lastimoso
e comatoso de toda a administração policial
e judiciária que com a sua ignara,
ignóbil e tosca aptidão, vive
à custa de nós todos,
e com certeza
que deve
rir-se
à socapa
dos nabos que os sustentam
na mais nababa das aselhices
de quem não faz nada.
Mas eu sei porque isto é assim.
É que ninguém se revolta.
Andam todos contentes
por julgarem ter preso
um ladrão, ainda
por cima, um
ladrão rico.
Mas a polícia não formular
uma acusação, não incomoda
ninguém. Sim, concordo,
é preciso ser-se mesmo
parvo para ninguém
se revoltar.