Claro. Aprendi a ler antes de me dedicar à sua leitura... Quanto à idade para o ler, devo dizer que preferi lê-lo com tempo lá para os 19, 20 anos. No Liceu, no 8º ano, o professor mandava às urtigas o gosto pela leitura e punha-nos a conjugar verbos e fazer análises sintáticas escabrosas... Não era, de facto, a melhor abordagem. Agora atribuir a culpa disso ao Camões...
O que se critica não é o Camões (eu já disse que acho os Lusíadas uma obra genial), mas sim a utilidade do Camões no momento em que é ministrado. Momento que devia ser de captação do maior número de adolescentes para a leitura. Se eles forem leitores lá chegarão ao Camões, ao Eça e a todos os clássicos, na idade própria (e a idade própria nem sequer é igual para toda a gente!). Eu que, como já disse, adoro o Eça, só apreciei o Maias muito depois de mo terem enfiado pela boca abaixo, no 10º ou 11º, salvo erro. Que suplicio que foi naquela altura!
A tua experiência foi a minha e, diria, é a da maioria das pessoas que passam pelo banco da escola. Tu passaste ileso por essa agressão mas muitos, demasiados, tombarão pelo caminho às mãos do Camões e de outros autores, numa espécie de ejaculação literária precoce, passe a boçalidade. Nunca mais serão leitores porque lhes enfiaram o Camões na altura errada.
E quase 25 anos volvidos lá vi o meu puto também a levar, também ele, com o ilocutório assertivo, o predicativo do complemento directo e todo o tipo de tentativas de assassinatos que a escola perpetua sobre putos.
O meu safou-se à conta dos livros da Aventura e da Cherub, esses atentados literários aos olhos de muitos. A partir daí começou a ler e hoje lê de tudo. No 12º ano vi-o, inclusivé, a apreciar poesia de Pessoa graças a um extraordinário professor que teve. Mas a origem, não nos enganemos, esteve cá muito atrás, nessa porcaria da "Cherub" e que me forçava uma ida à livraria, no mesmíssimo dia em que saía, tal o entusiasmo que ele e os amigos tinham por aquilo.