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Autor Tópico: Portugal falido  (Lida 3507663 vezes)

vbm

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Re: Portugal falido
« Responder #3180 em: 2013-05-27 00:27:17 »
Se defendes que se tire a todos para dar arbitrariamente a alguns, não berres depois quando vês tirar a todos para dar a quem não te parece que mereça. Quando se defende um sistema corrupto por natureza, não convém esperar outra coisa que não seja um sistema corrupto por natureza.

Não arbitrariamente, mas sim
em conformidade com a constituição
que defenda valores extra-mercantis,
e segundo programas políticos discutidos
e votados em eleições democráticas,




Incognitus

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Re: Portugal falido
« Responder #3181 em: 2013-05-27 00:53:45 »
Ninguém vota especificamente em dar ou não dinheiro a mais aos artistas. E de seguida, se é aceitável dar a um qualquer sub-grupo tirando a todos com carácter de lei, não te espantes se o sub-grupo favorecido não te agrada.

Aliás, não faz sentido nenhum andar a berrar "este é corrupto e roubou" ou "aquele é corrupto e roubou", pois se se está a defender um sistema que faz isso mesmo contra a vontade das pessoas (ou então, chegaria simplesmente a organização de associações voluntárias), qual a surpresa que isso depois aconteça?
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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Automek

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Re: Portugal falido
« Responder #3182 em: 2013-05-27 02:42:11 »
Retirado do programa de governo:

Citar
Objectivos estratégicos (da cultura)
- Reavaliar o papel do Estado na vida cultural, de modo a que até ao final de
2011 seja possível uma reorganização e simplificação das estruturas da
Secretaria de Estado da Cultura do ponto do vista do interesse público;

- Valorizar o papel da cultura, da criação artística e da participação dos
cidadãos enquanto factores de criação de riqueza, de qualificação frente às
exigências contemporâneas e de melhoria da qualidade de vida dos
portugueses;

- Promover a educação artística e para a cultura em todos os sectores da
sociedade, em coordenação com entidades públicas e privadas;

- Reafirmar a necessidade da salvaguarda do património material e imaterial;

- Libertar o potencial das indústrias criativas e apoiar a implementação do
negócio digital e das soluções de licenciamento que permitam equilibrar a
necessidade de acesso à cultura com o reforço dos direitos dos criadores;

- Apoiar, libertar e incentivar a criação artística, nas suas diversas áreas, tendo
em conta que o Estado não é um produtor de cultura.


Isto é bonito, tal o teu post, mas suficientemente amplo para dar lugar a arbitrariedades. Não entendas isto como uma critica ou provocação. É apenas para tentar demonstrar que tu, ainda que involuntariamente, defendes algo que se presta ao abuso de poder (que é algo que provavelmente detestas)

Automek

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Re: Portugal falido
« Responder #3183 em: 2013-05-27 02:44:28 »

vbm

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Re: Portugal falido
« Responder #3184 em: 2013-05-27 09:13:21 »
Ninguém vota especificamente em dar ou não dinheiro a mais aos artistas. E de seguida, se é aceitável dar a um qualquer sub-grupo tirando a todos com carácter de lei, não te espantes se o sub-grupo favorecido não te agrada.

Aliás, não faz sentido nenhum andar a berrar "este é corrupto e roubou" ou "aquele é corrupto e roubou", pois se se está a defender um sistema que faz isso mesmo contra a vontade das pessoas (ou então, chegaria simplesmente a organização de associações voluntárias), qual a surpresa que isso depois aconteça?

As tuas objecções são pertinentes e valiosas.

A prova empírica é o estado degenerado
onde pululam as pensões de demérito
de reformados do parlamento
e aposentados dos bancos.

É flagrante a iniquidade de tais abusos.

Compara-os com o facto verídico
de Fernandes Tomás
ter morrido na
miséria.

Por isso é difícil encontrar
o lugar geométrico
onde se faça
a justiça.


No entanto,
por muito que aprecie
a governação e a aplicação
da lei a todo e qualquer cidadão,

há mais de vinte e quatro séculos,
este dilema tem solução política,
por meio de um rei sábio,
entrevista por Platão,
no seu diálogo
d'O Político.

Mas concordo contigo,
na falta de um governo sábio,

«a única via possível para uma
cidade atingir a excelência
é o respeito pelas leis»*


* op.cit., ed. Círculo de Leitores
 / Temas e Debates, n. 109


Incognitus

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Re: Portugal falido
« Responder #3185 em: 2013-05-27 12:08:33 »
Fernandes Tomás "mereceu" tanto acabar na miséria quanto qualquer outra pessoa que acabe na miséria. E faz tanto sentido evitar-lhe isso, quanto o faz evitar o mesmo a qualquer outra pessoa.
 
Confundes a tua noção de "valor"  com uma noção partilhada e pior ainda, obrigatória. A solução que te dei - de quem voluntariamente quiser ajudar, o fazer - resolve o problema da noção de valor partillhada pois não obriga quem não a partilhe.
 
Continuares para lá desse ponto a querer obrigar os outros à tua noção de valor, isso já é anti-ético. O Fernandes Tomás que te diz a ti alguma coisa não tem que dizer aos outros. O ilustre desconhecido que não te diz nada a ti e não merece esse cuidado adicional, pode dizer aos outros.
« Última modificação: 2013-05-27 12:12:28 por Incognitus »
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Automek

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Re: Portugal falido
« Responder #3186 em: 2013-05-27 15:32:48 »
O Fernandes Tomás que te diz a ti alguma coisa não tem que dizer aos outros. O ilustre desconhecido que não te diz nada a ti e não merece esse cuidado adicional, pode dizer aos outros.
O curioso é que se aceite um sistema em que a pessoa é obrigada a contribuir compulsivamente para um qualquer pianista que não lhe diz nada, quando preferiria apoiar a banda filarmónica da sua terra se tivesse essa opção.

vbm

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Re: Portugal falido
« Responder #3187 em: 2013-05-27 15:37:55 »
Fernandes Tomás é um modo de exemplificar;
só há pouco tempo soube que no fim da vida
passou fome e nunca recebeu um tostão
no exercício da acção política. Quando
eu andava no liceu, calcorreava
a rua com o seu nome, mas
só o sabia Liberal de 1820.


Faz sentido evitar a miséria
de uma pessoa qualquer,
— estendo à ética a geometria :) —,
sem que isso me iniba
de apreciar a desigualdade
social causada pelo mérito
ou demérito de cada
cidadão particular.


Eu já tinha notado o teu argumento
da partilha de valores pelo livre
associativismo. Não discordo, claro.

Mas observo duas ou três coisas.

Como cidadão, espero que o estado
defenda a minha liberdade de:
entrar, estar e sair de qualquer
associação.

Espero, também, que o estado
ilegalize associações que violem
a lei da sua constituição política,
a qual é o melhor instrumento
de defesa anti-maioritário.


Já enfatizei o valor
da igualdade perante a lei;

apenas considero, além disso,
que o governante sábio,
deve ter mais arte
do que a simples lei escrita.

Se impotente para obviar
tout court à miséria
de eméritos cidadãos
da ciência e da cultura,

deve

liderar um golpe de estado
ou demitir-se.


Incognitus

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Re: Portugal falido
« Responder #3188 em: 2013-05-27 15:44:43 »
Vbm, para ti o governante sábio deve discriminar entre cidadãos. Isso não parece lá muito sábio.
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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vbm

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Re: Portugal falido
« Responder #3189 em: 2013-05-27 15:57:15 »
Retirado do programa de governo:

Citar
Objectivos estratégicos (da cultura)

- Reavaliar o papel do Estado na vida cultural, de modo a que até ao final de 2011 seja possível uma reorganização e simplificação das estruturas da Secretaria de Estado da Cultura do ponto do vista do interesse público;

- Valorizar o papel da cultura, da criação artística e da participação dos cidadãos enquanto factores de criação de riqueza, de qualificação frente às exigências contemporâneas e de melhoria da qualidade de vida dos portugueses;

- Promover a educação artística e para a cultura em todos os sectores da
sociedade, em coordenação com entidades públicas e privadas;

- Reafirmar a necessidade da salvaguarda do património material e imaterial;

- Libertar o potencial das indústrias criativas e apoiar a implementação do negócio digital e das soluções de licenciamento que permitam equilibrar a necessidade de acesso à cultura com o reforço dos direitos dos criadores;

- Apoiar, libertar e incentivar a criação artística, nas suas diversas áreas, tendo em conta que o Estado não é um produtor de cultura.[ ]

Andei à cata, nestes posts, do "programa" cultural do governo
que já me tinha impressionado pela absoluta inanidade da
sua prosa de "contínuo de secretaria". Só tem um mérito:
espelha fielmente a incultura do próprio governo.
« Última modificação: 2013-05-27 16:04:47 por vbm »

vbm

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Re: Portugal falido
« Responder #3190 em: 2013-05-27 16:03:22 »
Vbm, para ti o governante sábio deve discriminar entre cidadãos. Isso não parece lá muito sábio.

É uma questão de mais arte, no exercício da política,
na base da desigualdade social do mérito.

Incognitus

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Re: Portugal falido
« Responder #3191 em: 2013-05-27 16:14:17 »
Vbm, para ti o governante sábio deve discriminar entre cidadãos. Isso não parece lá muito sábio.

É uma questão de mais arte, no exercício da política,
na base da desigualdade social do mérito.

A percepção do "mérito" varia de pessoa para pessoa, pelo que não faz sentido forçar todas as pessoas a sustentarem aquilo que TU vês como mérito...
« Última modificação: 2013-05-27 16:14:48 por Incognitus »
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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Zenith

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Re: Portugal falido
« Responder #3192 em: 2013-05-27 16:53:23 »
A miséria de algumas figuras famosas é muito relativa. Segundo reza a história ou a lenda o próprio Camões tinha um criado (ou um escravo?) que mendigava para ele.
Uma vez apareceu um post (talvez ainda no forum antigo) a dizer que o Chirac estava na miséria, quando na verdade tinha uns 30k€ de reforma / mes mais uma serie de outras regalias. Claro que para quem passou décadas nalguns dos mais luxuosos palacios do mundo é uma queda, mas para o cidaao comum uma miséria destas seria o Olimpo.
Na maioria dos casos, miséria para os aristocratas significa que reduziu significativemente os gastos, mas nada a ver com o entendimento que cidadão comum tem da palavra.
Muitas vezes esses exageros de dizer que morreu na miséria e o consequente opróbio dos contemporâneos que viram essa miséria com indiferença surge precisamente porque ela não se via. Só depois da morte é que se descobria que alguém que se pensava abastado afinal tinha um património reduzido, e como a comoção é própria a exageros surge a palavra miséria.
De resto a ingratidão em geral não é assim tão extrema, no caso do próprio Fernandes Tomás foi criada (pouco tempo antes da morte) uma comissão de beneficiência.  O que pode chocar é para a posteridade que ao longo de décadas ou séculos fez um julgamento distanciado dos méritos de alguèm ver a cegueira da sociedade contemporânea que se tivesse o dom de vislumbrar o futuro teria estaimado o homem e não deixado o tarefa de o apoiar a um grupo de amigos fiéis.

Automek

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Re: Portugal falido
« Responder #3193 em: 2013-05-27 17:01:56 »
Andei à cata, nestes posts, do "programa" cultural do governo
que já me tinha impressionado pela absoluta inanidade da
sua prosa de "contínuo de secretaria". Só tem um mérito:
espelha fielmente a incultura do próprio governo.
Incultura porquê ? Porque não é coincidente com a tua definição de cultura ?

Não te pode chocar que o programa tenha este tipo de princípios arbitrários porque é exactamente o que defendes. Ora repara o que dizem relativamente ao cinema:

Citar
Uma parte dos investimentos do Instituto do Cinema e do Audiovisual deve ser
reservada ao estímulo a novos talentos e a filmes que, pela sua particularidade
artística e cultural, possam não encontrar no mercado as fontes necessárias de
financiamento.

Incognitus

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Re: Portugal falido
« Responder #3194 em: 2013-05-27 17:10:36 »
Andei à cata, nestes posts, do "programa" cultural do governo
que já me tinha impressionado pela absoluta inanidade da
sua prosa de "contínuo de secretaria". Só tem um mérito:
espelha fielmente a incultura do próprio governo.
Incultura porquê ? Porque não é coincidente com a tua definição de cultura ?

Não te pode chocar que o programa tenha este tipo de princípios arbitrários porque é exactamente o que defendes. Ora repara o que dizem relativamente ao cinema:

Citar
Uma parte dos investimentos do Instituto do Cinema e do Audiovisual deve ser
reservada ao estímulo a novos talentos e a filmes que, pela sua particularidade
artística e cultural, possam não encontrar no mercado as fontes necessárias de
financiamento.

Um dos problemas da arbitrariedade é que uma pessoa geralmente defende a SUA arbitrariedade, não a arbitrariedade dos outros, "Deus nos livre!" ...   :D
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Automek

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Re: Portugal falido
« Responder #3195 em: 2013-05-27 17:52:54 »
Eheheh, mas este fenómeno da cultura é curioso uma vez que é uma coisa com um valor relativo e não absoluto.

No plano teórico, eu não trocava as pinturas que o meu filho fez na pré primária e na primária por um quadro do Picasso, se não o pudesse vender.

Eventualmente apenas consideraria essa troca se esse quadro do Picasso tivesse um valor tal (e pudesse ser vendido) que viesse a beneficiar a vida da minha família, ao ponto de se justificar de abdicar desse trabalhos. Ou seja, para mim aqueles rabiscos têm um valor muito elevado, enquanto que para as outras pessoas não têm qualquer valor.

Aliás, um conjunto de pinceladas podem não valer nada até ao dia em que se descobre que foram pintadas pelo Picasso. Isto mostra bem o problema da cultura e das artes.

Luisa Fernandes

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Re: Portugal falido
« Responder #3196 em: 2013-05-27 19:05:37 »
Quem não Offshora não mama...

vbm

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Re: Portugal falido
« Responder #3197 em: 2013-05-27 20:24:40 »
Tergiversam sobre o que eu digo,
porquanto desde o princípio
subscrevo a igualdade
perante a lei,

e só revindico o direito-dever
do governante-sage,
se demitir ou insurgir-se
contra o escândalo da
demeritocracia.


E, já agora,
um livro que recomendo,
a favor da virtude da paciência
e contra o excesso de paciência. :):



itg00022289

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Re: Portugal falido
« Responder #3198 em: 2013-05-27 20:30:44 »
Citar
Verdades incómodas

por JOÃO CÉSAR DAS NEVES

Existem algumas verdades sobre a crise que muitos tentam esconder. Elas perturbam o mito confortável de que as culpas pertencem a um grupo de malfeitores, quase todos políticos. O melhor é deixar as coisas como estão, pois assim todos podemos considerar-nos vítimas, sem arrependimento ou remorso. Recomenda-se então que não leia o resto deste texto, revelador de factos subversivos.
Os reformados estão hoje entre os críticos mais vociferantes. Mas seria bom que notassem que não descontaram o suficiente para as reformas que agora gozam. Basta uma continha simples para perceber que a contribuição de uma pequena parcela do ordenado nunca permitiria vir a receber um montante quase igual a essa remuneração durante um período quase igual ao do desconto. Isto chama-se "crise da segurança social" e é tema de estudos e debates há décadas.
Pode dizer-se que têm direito a receber o que diz a lei, aliás escrita pela geração agora reformada. Mas o que não faz sentido é protestar abespinhado contra o corte como se fosse um roubo dos montantes acumulados. Desde 1974 que o nosso sistema de pensões não é de capitalização, sendo pagas as reformas pelos descontos dos trabalhadores do momento. Quando uma geração concede a si própria benesses superiores ao que pôs de parte, não se deve admirar que mais tarde isso seja cortado, por falta de dinheiro. Se alguém pode dizer-se roubado, não são os actuais pensionistas, mas os nossos filhos e netos, que suportarão as enormes dívidas dos últimos 20 anos, e não apenas na segurança social.
Outro mito cómodo é o que diz que os direitos dos trabalhadores e o Estado social estão a ser desmantelados. De facto, os direitos que a lei pretendeu conceder nunca foram dos trabalhadores, mas de alguns trabalhadores. Muitos empregados no privado nunca tiveram aquilo que agora cortam aos funcionários públicos. Além disso, a percentagem média de contratados a prazo é, desde 1983, quase 18%, ultimamente sempre acima dos 20%. Somando isto aos desempregados, inactivos, clandestinos, etc, vemos a larga privação dos supostos direitos. Os exageros das regulamentações neste campo são só benefícios que um grupo atribuiu a si mesmo. Como isso aumenta os custos do trabalho, prejudica fortemente o crescimento e o emprego, agravando as condições dos mais necessitados.
Quanto ao Estado social, ele teve como principais inimigos aqueles que durante décadas acumularam supostos direitos sem nunca se preocuparem com o respectivo financiamento. Aproveitaram os aplausos como defensores do povo, receberam benefícios durante uns tempos e, ao rebentar a conta, zurzem agora aqueles que limpam a sujidade que eles criaram. Em todos os temas políticos, como no campo ambiental, esquecer a sustentabilidade é atentar contra aquilo mesmo que se diz defender.
Finalmente, no que toca à dívida, é importante considerar que a maior parte não é do Estado. As empresas estão descapitalizadas, as famílias endividadas, os bancos desequilibrados. Todos participámos da loucura dos últimos 20 anos; não apenas os políticos. As maiores responsabilidades são dos dirigentes, mas o povo não foi só vítima inocente de uma festa de que gozou durante décadas.
A culpa até é dos credores, que alimentaram a mesma loucura. Esta é a última verdade incómoda. A nossa dívida, das maiores do mundo, nunca poderá ser paga. Assim, todos os envolvidos terão de suportar algum custo, devendo encontrar-se uma partilha razoável. Mas para isso Portugal não deve fazer de galaró arrogante, repudiando o débito ou exigindo renegociações. Prudente é uma atitude serena e negociada, mostrando que es- tamos dispostos a assumir culpas e suportar sacrifícios, mas pedindo que se encontre um equilíbrio que, aliviando parte da carga, nos permita limpar o longo disparate e abrir um novo ciclo de progresso e prosperidade que beneficiará tanto credores como devedores.
Estas são algumas verdades do momento. Indiscutíveis, mas incómodas, que muitos preferem ignorar. Por isso foi avisado que não devia ler este texto.

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3240900&seccao=Jo%E3o%20C%E9sar%20das%20Neves&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco&page=-1

Incognitus

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Re: Portugal falido
« Responder #3199 em: 2013-05-27 21:36:00 »
Tergiversam sobre o que eu digo,
porquanto desde o princípio
subscrevo a igualdade
perante a lei,

e só revindico o direito-dever
do governante-sage,
se demitir ou insurgir-se
contra o escândalo da
demeritocracia.


E, já agora,
um livro que recomendo,
a favor da virtude da paciência
e contra o excesso de paciência. :) :





Por "demeritocracia" penso que queres dizer "a meritocracia aferida pelos outros".

Sim, porque o que tu estás a defender é que aquilo a que dás valor seja favorecido sobre aquilo que os outros dão valor. Porque se estivesses a defender que todos tivessem igual importância a estabelecer aquilo a que dão valor, então não terias que ser a favor de criar uma excepção para favorecer aquilo que te interessa a ti.

E claro, se se defende um sistema que pode favorecer uns sobre outros, depois só com grande sorte é que esse sistema acaba a favorecer quem tu queres. E aí acabas a berrar na rua, junto com milhares de outras pessoas, contra a "corrupção". Que, com as tuas opções, na realidade defendes...
« Última modificação: 2013-05-27 22:12:38 por Incognitus »
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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