Um pormenor engraçado. Se definirmos como sendo pobres os indivíduos que obtêm um rendimento abaixo de 60% da mediana de rendimento de uma sociedade, então numa sociedade saudável a pobreza será quase certamente inevitável, pelo menos para uma fatia da população.
Porquê? Porque 60% da mediana é um valor muito elevado! É um valor especialmente elevado para alguém que não produza nada para a restante sociedade. Mesmo que um salário mínimo seja o suficiente para evitar a pobreza, é importante reparar que alguém que não produza nada para os outros deverá obter um rendimento via apoios sociais pior que o pior possível para alguém que produz para terceiros. E não basta que seja 5% ou 10% pior ou algo do género, senão continua a não compensar produzir para terceiros.
Ora, com o critério de pobreza a 60% do rendimento mediano de uma sociedade, e com o salário mínimo a não poder coincidir com o rendimento mediano (sob pena de toda a gente ter que ganhar o mesmo nessa sociedade), então isso quase certamente arrasta o rendimento de alguém que não produz para terceiros para baixo dos 60% do rendimento mediano. Isso se quisermos que essa posição seja pior do que a que quem, sendo mal remunerado, produz para terceiros.
E aí está, para a sociedade ser saudável, então o grupo que não produz para terceiros tem que estar com grande probabilidade a ser remunerado abaixo dos 60% da mediana ... e tem que ser pobre por essa definição!
(Uma sociedade em que quem não produz para os outros consegue um rendimento assistencial superior -- ou mesmo sequer próximo -- a quem produz para os outros não será saudável pois rapidamente terá muitas pessoas a optar conscientemente por não produzir, empobrecendo todos)