Rússia: O “25 de Abril” sem “25 de Novembro
Ao contrário de Portugal, na Rússia não aconteceu um 25 de Novembro, mas sim um 25 de Outubro que pôs fim à tentativa de democratização. Militares e civis anti-bolcheviques não levavam Lenine a sério.
O dia 8 de Março (23 de Fevereiro) de 1917 na Rússia entrou na história por ter marcado o início da primeira revolução a vencer a monarquia arcaica e incompetente que governava o país. Porém, a luta pelo poder entre os democratas e os bolcheviques acabaria por fazer abortar mais uma tentativa de aproximação à Europa.
A abdicação do czar Nicolau II ao trono do Império Russo foi de tal forma inesperada que houve dificuldade em formar um governo para que o poder não caísse na rua. Mas o problema é que, no lugar de um novo poder, apareceram dois: o Governo Provisório, que reunia dirigentes de vários sectores democráticos, e os Sovietes, que juntavam partidos revolucionários de todo o tipo, desde os socialistas revolucionários até aos anarquistas. Nessa altura os bolcheviques de Lenine, se recorrermos à linguagem política de 1974-1975 em Portugal, não passavam de um “grupelho” de extrema-esquerda sem grandes perspectivas de tomar o poder, uma espécie de MRPP ou de UDP.
No meio do caos e da indecisão política, surgiu uma personagem rara: Vladimir Lenine. Surpreendido pela revolução na Suíça, regressa à Rússia com ajuda dos alemães, inimigos dos russos na guerra, apodera-se das propostas dos partidos de esquerda mais populares e acrescenta propostas que quase ninguém levou a sério. No fundo, os primeiros discursos de Lenine faziam lembrar as peças oratórias de Arnaldo de Matos. Até alguns dos seus camaradas consideravam que ele não estava ao corrente da situação na Rússia, devido à longa permanência na emigração, ou que estava mesmo louco.
Como hoje se volta a falar tanto de populismo, é necessário analisar esta fase da vida de Lenine para constatar que ele era um mestre na matéria. Prometia tudo o que os cidadãos russos queriam ouvir — fábricas aos operários, terra aos camponeses, poder aos sovietes, paz sem contribuições e anexações — e o seu Partido Bolchevique começou a ganhar cada vez mais popularidade.
Neste período, houve tentativas de resolver a situação, como em 28 de Maio de 1926 em Portugal, através de um golpe militar, mas os democratas russos opuseram-se a esse cenário.
Ao contrário de Portugal, na Rússia não aconteceu um 25 de Novembro, mas sim um 25 de Outubro/7 de Novembro, que pôs fim à tentativa de democratização desse país. Militares e civis anti-bolcheviques não conseguiram unir-se, talvez porque não levavam Lenine a sério
Os resultados são conhecidos: os operários continuaram sem fábricas, os camponeses sem terra e o sangue continuou a correr abundantemente. Não é difícil encontrar promessas semelhantes entre os populistas das extremas esquerda e direita actuais. Afinal, a felicidade está ao virar da esquina, dizem eles, e, sabendo tantas vezes que não é verdade, a maioria vai atrás e vota neles.