Quando este tipo de questões se coloca eu costumo perguntar onde, em que lei, tratado, hábito ou outro é que está escrito que uma música da Amália tem mais qualidade do que uma do Tony ? Ou porque é que um filme do MO tem mais qualidade do que o Rocky 4. Geralmente só obtenho insultos e nunca respostas objectivas.
É uma questão aparentemente simples, mas que já terá originado, ao longo de séculos, talvez, um infindável e aceso debate entre elitistas e "popularistas". Como normalmente são os elitistas que estão na pose de uma muito maior clareza e precisão no discurso, e como normalmente ocupam posições privilegiadas em termo de comunicação e divulgação, é a sua visão que vai prevalecendo sobre as restantes ao longo do tempo, originando voluntariamente com isso a perpetuação da adulação aos génios. Acho que isto é mais ou menos senso comum. Contudo, creio que possam ser encontrado alguns critérios menos subjectivos aqui e ali que permitam ajudar a que isto suceda, e que fazem em alguns casos fazer coincidir as visões elitista e popularista.
Este debate intensificou-se a um extremo impensável com o acontecimento "Internet", tendo por um lado democratizado o direito e o acesso ao discurso abrangente a milhões de pessoas (que de outra forma seriam uma maioria silenciosa), e por outro tornado essa democratização numa quase obrigatoriedade em seguir as tendência verificadas pela maioria (veja-se os votos no imdb, que passam quase por determinantes para muita gente aferir a qualidade de uma obra).
Mas grosso modo concordo com a ideia de que a qualidade não deve ser uma verdade dogmática decidida por uma minoria supostamente "educada". Não coloco em causa a educação nem a sapiência dessa minoria (até porque as considero, regra geral, muito importantes), mas coloco em causa e vontade que têm em impor o seu gosto sobre o dos outros quando estão em cima da mesa subsidios e apoios institucionais.