23 graus la fora,sinto frio,o sol que me devia aquecer esta frio!
As palavras sao como as pedras,passo a vida a atirar palavras para o ar,com medo que me acertem na cabeca.Ela passa a vida a dizer,que eu sou um desbocado,que falo pelos cotovelos,e que um dia,hei-de me lixar.Lixado ando eu neste mundo,ouvindo e vendo,todo o mundo descontente,os desempregados sao uns felizardos,os unicos que nao vao ter cortes.
Ja aqui referi,que nasci com o cu,voltado para a lua.Filho unico de uma familia burguesa,que nao teve muito juizo,passaram a vida a poupar,para um dia eu poder gastar.
Sim,eu sou um preveligiado,materialmente sem problemas,vivo numa terra onde os problemas,a crise,anda por todos os lados.
Sei que nao posso vir para aqui,dizer alto,que nao tenho problemas materiais.Ela chateia-me,e esta sempre a dizer-me,com tanta desgraca que anda por aqui,devias era calar essa boca.
Olho para tras,infancia dourada,calcado pelas ruas e o povo descalco.Ainda me lembro quando fui para a escola,miudos com cara de esfomeados,descalcos,e eu com umas botas de couro.Consciente do que me rodeava,descalcava as botas e descalco corria atras deles,pelos caminhos empedrados,pelas rochas,onde o mar
me deixava pescar.
Cresci,nao ligava aos livros,e o resultado foi,me mandarem para Lisboa,para um colegio interna,onde a singularidade,era todos estarem calcados,era todos serem uns grandes cabulas.
Aos vinte anos entrei na faculdade de direito,um mundo diferente.Filhos de ministros,filhos de homens ricos,aquilo era um mundo diferente.Sentado ao meu lado,um puto loirinho,o joao bosco mota amaral,atras o freitas amaral,do outro lado o jorge sampaio,e o Vera Jardim,mulheres eram poucas,a Palma Carlos e a mulher do Eanes.Foi ai que acordei para a vida,e me tornei revolucionario.A autonomia da faculdade,jorge Sampaio,presidente da associacao,e eu um mero diretor de relacoes publicas.Greves,comicios,manifestacoes,levaram-me para dentro da Antonio Maria Cardoso,sede da Pide,onde estagiei por varias vezes.A estatua,era algo diferente.De pe em sentido,noites a fio,as pernas a inchar e a cabeca a rebentar.A coisa aqueceu,veio a greve da fome,e fui hospedado no forte de Caxias.
Nao sei o que estou escrevendo,atiro palavras para o ar,e nao tenho medo de que elas me caiam na cabeca.
Quarenta anos a trabalhar na banca,ali tambem lutei,fui delegado sindical,ali tambem houve greves,ali tambem houve injusticas,e hoje,olhando para o ordenado,reconheco que fui compensado,com o corte no meu ordenado!
james