Portugal tem uma tradição pidesca plurissecular, iniciada no séc. xvi com a perseguição aos judeus e a criação do tribunal da Inquisição, depois prosseguida com os jesuítas, - suponho -, e experienciada no Estado Novo com a PIDE salazarista. No estrangeiro, na Europa, a tradição alicerçou-se na Ciência, particularmente no raciocínio dedutivo mas suportado pela experiência, alicerçado na lógica, na matemática e na mecânica cartesiana. Isto é, enquanto na Europa, a sociedade passou a apoiar-se mais na ciência objectiva das causas e efeitos e sua explicação em leis regulares físicas, no mundo ibérico, católico, persistiu a valorização da religião e do voluntarismo político do que se considera desejável querer. Assim, neste mundo mais reacionário, persistiu a atenção, o alerta dos que pensam de uma maneira contra os que pensam de maneira contrária e, como tal, podem pôr em perigo os ideais que se perseguem ou as ideias que se valorizam. Não assim, no mundo progressivo da ciência, porque aí a atenção vira-se prioritariamente, não para o que os outros pensam ou querem, nem sequer para o que nós próprios queremos ou desejamos, mas sim para as condições objectivas que tornam possível ou não realizar-se o que se pretende. Ou seja, é menos valorizada a espionagem, a vigilância pidesca de adversários, em benefício de maior atenção às condições físicas de cada acção possível! Explico nesta diferença, o atraso da península ibérica em relação à Europa continental e à Inglaterra. Era bom que , de vez, em Portugal, se avançasse afoitamente a privilegiar a ciência e os cientistas e cessasse a actividade partidária de carácter pidesco.