O triângulo PDVSA - BES - Goldman Sachs ou Bank of America
http://mariateixeiraalves.blogs.sapo.pt/o-triangulo-pdvsa-bes-goldman-sachs-1012533António Souto explicou à deputada Mariana Mortágua, mas não foi bem entendido. Esta é uma operação complexa e que permitiu três coisas: que o BES financiasse as elevadas necessidades de tesouraria da PDVSA; que os intervenientes investissem em papel comercial do GES; e que os bancos norte-americanos financiassem a petrolífera venezuelana contornando o embargo dos Estados Unidos à Venzuela.
Vejamos:
Mariana Mortágua falou de uma operação especifica de uma construtura chinesa e de uma operação com a Goldman Sachs. Mas essa foi apenas uma delas. Há outras feitas nos mesmos moldes com o Bank of America.
O que se fazia?
A PDVSA precisava de pagar a fornecedores a um prazo longo, mais ou menos ao longo de três anos. O BES assumia o risco PDVSA para pagar aos fornecedores. Emitia cartas de crédito que garantiam o pagamento da PDVSA ao seu fornecedor. O BES assumia o risco PDVSA, mas não tinha liquidez e por isso estabelecia um acordo de contraparte com outro banco que assegurasse a liquidez e esse era a Goldman Sachs ou o Bank of America.
Estas operações foram aprovadas em conselho do banco e dada a elevada exposição foram pedidos colaterais à PDVSA.
O que disse António Souto?
A certa diz que a Goldman Sachs quis tomar parte do risco e desta forma partilhou com o BES essa função. Dividiam as comissões. Mas por causa do embargo dos Estados Unidos à Venezuela, a Goldman Sachs não quis aparecer na operação e negociou com o BES uma operação de financiamento back-to-back. À medida que o BES era obrigado a financiar o fornecedor da PDVSA pedia à Goldman Sachs para desembolsar o dinheiro. Depois à medida que a PDVSA pagasse ao BES, mais ou menos ao fim de um ano e meio, o BES pagava à Goldman Sachs.
O que não disse António Souto?
Que estas operações com a PDVSA eram comuns, isto é, o financiamento a fornecedores da PDVSA. Algumas fizeram-se com o Bank of America em vez de ser com a Goldman Sachs. O circuito era o mesmo. O BES assumia o risco PDVSA ou partilhava-o com o banco contraparte, que disponibilizava a liquidez. Os bancos americanos é que ficavam no fundo a financiar a PDVSA sem o assumirem. Mais. Os fornecedores da PDVSA podiam receber mais cedo se investissem em papel comercial das empresas do GES. A PDVSA podia ter um desconto no pagamento da carta de crédito ao BES se investisse em papel comercial do GES o remanescente.
A proporção de dinheiro que em cada operação ia parar ao GES ia desde os 30% aos 50%. Isso ninguém disse. Mas era sempre aí que tudo ia parar. Muitas operações de financiamento de grande dimensão tinham por contrapartida um investimento na dívida ou capital da ESI, ES Control, Rioforte, etc.
Outra coisa interessante que disse o administrador do BES que tinha o pelouro do crédito a empresas, é sobre o mesmo mecanismo das cartas garantia, mas desta vez aos clientes do BES Angola. Segundo António Souto a confirmação de cartas de crédito e sua liquidação nunca pesaram mais do que 500 milhões de euros num total de exposição de 3,3 mil milhões de euros do BES ao BESA. A desmentir Álvaro Sobrinho portanto.
Havia importadores angolanos que abriam cartas de crédito a favor de exportadores portugueses o BES confirmava as cartas de crédito. Os exportadores exportavam e o BES pagava aos exportadores. O BES debitava de seguida ao BESA esse dinheiro que tinha adiantado e este ia pedir o dinheiro ao importador angolano. Alguns, muitos, não pagaram, mas nunca estes créditos justificaram mais do 500 ou 550 milhões de euros. O BESA é que tinha de ir cobrar aos importadores angolanos. Essa responsabilidade de analisar o risco dos clientes era do BESA.
Ou seja há muito mais do que o crédito a empresas exportadoras a justificar os créditos malparados do BESA.
Mais uma vez é preciso ver que operações estão ligadas ao financiamento do GES.
Sendo que é conhecido que os accionistas do BESA eram também investidores na ESI, na Control, quiça Rioforte e ESFG.
Sobre o argumento de o dinheiro nunca ter saído de Portugal que Álvaro Sobrinho, o rico angolano como se intitulou, usou para explicar que o crédito do BES ao BESA favoreceu o BES. António Souto riu-se do disparate: «O dinheiro estar cá ou lá é irrelevante o que interessa é a que balanço é que pertence».