Definir o bem comum acaba por ser inútil. Reparem, no colectivismo DECLARA-SE que se quer atingir o bem comum. Porém, não passa disso, de uma declaração que qualquer entidade pode fazer. O sistema em si não concretiza como é que tal bem comum será alcançado (nem quando se vota em partidos, pois estes apresentam programas eleitorais vastos e depois nem sequer os cumprem, além de que cumpri-los não avança necessariamente a sociedade em direcção ao bem comum). O bem comum é composto de muitos interesses divergentes.
No individualismo não existem objectivos tão nobres. Apenas se declara que cada indivíduo procura atingir o seu bem. Porém, num sistema individualista como o capitalismo, a forma de atingir esse bem individual resulta necessariamente no atingir do bem individual de um magote de outros indivíduos. Isto porque eles só transaccionarão onde vejam valor, onde os seus desejos e necessidades estejam a ser satisfeitos. Mecanicamente, ao satisfazer muitos bens individuais, caminha-se para o bem comum. Só não se lá chega totalmente porque quem não tenha nada para oferecer aos outros também tem dificuldade em obter dos outros (ex-caridade). Nesse aspecto é preciso algum bem comum, para um objectivo MUITO mais estrito (dar aos que não conseguem obter pelos seus meios).
O colectivismo aplicado a objectivos muito concretos tem possibilidade de funcionar. Aplicado a objectivos muito gerais passa a arbitrário e toda a gente o tenta usar para os seus interesses.
Não entendeste a metodolgia da discussã, nem a definição que foi dada.
Ainda se está na fase de definir o que é o bem comum, não no método de utilização.
E numa sociedade neo-liberal em que todos criem a sua mini-sociedade e se isolem da sociedade global, há um bem comum que foi construído ao longos dos seculos com avançoes e recuos e onde as monadas individuais estão montadas para prosseguir os seus interesses individuais.
O bem comum é irrelevante porque o sistema só declara atingi-lo. Da mesma forma que podes declarar que o teu objectivo é ser milionário. Isso é irrelevante, o que interessa é o que concretamente é feito para seres milionário.
No individualismo, materializado no capitalismo, o interesse individual é essencialmente atingido servindo os interesses dos outros. Isto é mecânico.
No colectivismo, eventualmente materializado na democracia, o interesse comum é atingido votando em partidos. Existem múltiplos problemas:
* Tudo continua a ser constituído de indivíduos, sejam partidos seja a sociedade. E os indivíduos CONTINUAM interessados nos seus próprios interesses;
* A Estrutura criada para ser dirigida em direcção ao bem comum, o Estado, também é constituída de indivíduos interessados nos seus próprios interesses;
* Os partidos também apenas declaram que querem atingir o bem comum -- todos eles, da direita à esquerda. Apresentam programas longos, subjectivos, que ninguém lé, que poucos partidos cumprem, e cujoi cumprimento não garante o atingir do bem comum;
* Etc, etc. Um sistema assim montado tende a só funcionar por sorte ou com base na qualidade elevada fortuita de alguns (ou a maioria) indivíduos que chegam a cadeiras do poder e tentam, efectivamente, fazer o bem comum (ainda que sob a sua própria ideia do mesmo).
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Ainda assim, o colectivismo funciona. Quando? Quando o bem comum é definido de forma tão restrita que não há como desviar muito. Do género de dar um pouco a quem não consegue por si próprio obter. Ou providenciar educação gratuita a todos. Ou providenciar saúde gratuita a todos. São coisas óbvias, e tratam-se todos por igual. No entanto até aí os interesses individuais começam a minar a coisa. Os interesses de quem quer penalizar outras opções (vide a reacção contra apoiar crianças cujos pais optem pelo ensino privado). E os interesses de quem quer alimentar os seus próprios interesses (vide cultura, submarinos, SIRESP, corrupção em geral, etc).
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Em todo o caso definir o bem comum é irrelevante. Chega a noção de que é o bem do colectivo. Não deixa de ser subjectivo porque o colectivo são um magote de indivíduos que vêem o seu bem de formas díspares. Porque os indivíduos mantêm os seus interesses (e a vontade de os avançar) mesmo debaixo de um sistema colectivista.