A saúde é extremamente difícil.
Um sistema tipo americano em que cada um paga o seu parece-me justo. Mas é muito ineficiente.
Precisaria de várias alterações:
-possibilidade de negociar preços/importar medicamentos (o Trump já falou nisso);
-maior % de co-pagamento, para tornar os utlizadores com seguro mais sensíveis ao custo e aumentar o estímulo para criação de serviços low-cost. E os hospitais deveriam ter um precário mais transparente e comparável. Actualmente, uma companhia de seguros interessa-se mais pelo preço relativo (vs concorrência) que paga do que pelo preço absoluto. Muitas vezes o empregador paga, o empregado agradece mal sabendo que o aumento do preço dos seguros lhe come uma boa parte do potencial aumento salarial;
-redução da litigância judicial e do valor das indemnizações (que aumentam os custos dos seguros médicos e, indirectamente, o que o doente paga, fazem com que os médicos façam medicina defensiva, pedindo mais exames e dificultam que os profissionais falem dos erros, tornando mais difícil a adopção de medidas para os minorar);
-para garantir a cobertura de doentes, os seguros deveriam ser vitalícios ou obrigar a companhia a não discriminar. A primeira solução é extremamente difícil. Mesmo com um limite anual de cobertura, ninguém adivinha qual será o custo médio/doente daqui a várias décadas. A segunda solução aumenta o custo do seguro, diminuindo o interesse junto dos mais saudáveis, o que cria um ciclo vicioso em que, no final, só restam os doentes crónicos ou o preço se torna incomportável. Poder-se-ia obrigar (ou incentivar, como no Obamacare) a participação de todos, mas isso é, na minha opinião, menos ético.
Talvez a solução menos má consistisse na existência de diferentes graus de cobertura (em saúde, grande parte dos benefícios advêm de coisas baratas, como consultas, vacinas, antibióticos e antihipertensores, enquanto o que é tremendamente caro, como um transplante hepático ou a última quimioterapia, é habitualmente útil a uma pequena minoria e, mesmo nesses casos, muitas vezes, confere um pequeno benefício). O estado pagaria às crianças. Ao entrarem em idade laboral, escolheriam o escalão de cobertura. Todos saberiam que só era possível subir de cobertura enquanto não tivessem doenças dispendiosas.
Teria a vantagem adicionar de os novos pagarem menos, favorecendo a constituição de famílias e a natalidade.
Mesmo assim, a saúde seria sempre um problema pois os gastos tendem a aumentar mais do que o PIB devido a :
-baixa natalidade--> maior % da população nos escalões etários mais avançados, gastando mais em saúde;
-maior esperança de vida--> agrava o problema anterior
-maior sobrevivência de pessoas com doenças crónicas graves graças ao avança dos cuidados--> maior duração do tratamento da doenças crónica e aparecimento de outras doenças crónicas que se vão associando
-novos tratamentos para doenças crónicas-->muitas vezes não substituem, antes se associam aos tratamento existentes;
-tecnologias mais sofisticadas e caras;
-diferença entre o prescritor (médico, que não paga), o beneficiário (doente, que exige) e o pagador (estado, seguro);
-mais fármacos de uso hospitalar-->custo recai mais facilmente no estado e não no doente. Menor possibilidade negocial do estado.
-aumento da escolaridade da população e difusão do conheciemento (internet)-->doentes sabem que existe um tratamento recente e melhor (ou mais caro e que alguém se encarrega de fazer parecer melhor) e exigem-no.
É a saúde que irá rebentar com muitos estados-providência.