Ora, o liberalismo permite a co existência de inúmeros sistemas sem que haja a necessidade da democracia se sobrepor em variadissimos aspectos que podem ser livres.
Tens razão. Mas com essa liberdade surgem também mais hipóteses de abuso, porque não há tantas regras para proteger as partes envolvidas. E as desigualdades são deixadas ao abandono e ao puro acaso, em vez de haver um sistema estruturado deliberadamente para atenuar os defeitos gerados no seio da vida comunitária. A liberdade tem esse pequeno problema - aquela que reclamamos como nossa pode sempre chocar com a do próximo. Se queremos muita, muita, muita liberdade, talvez tenhamos de espezinhar o colega do lado para a alcançar. Espezinhar, que é como quem diz, fazer de conta que ele não existe e que não é um problema nosso que ele viva na miséria.
Este é o cerne da questão: é um problema nosso que ele viva na miséria?Objectivamente, à partida é um problema (no sentido de dificuldade, incómodo ou sufoco) dele.
Poderá ser um problema nosso, no sentido em que ele poderá, por exemplo, roubar-nos. Nesse caso, poder-se-ia avaliar qua a maneira mais eficaz de minimizar o problema. Por exemplo, entre ajudar e gastar em segurança.
Finalmente, poderá ser um problema nosso, no sentido em que nos poderemos sentir incomodados com essa miséria, o que nos leva a querer ajudá-lo.
Esse incómodo variará de pessoa para pessoa e, como o tempo e o dinheiro nunca chegam para tudo, mesmo existindo vontade de ajudar a disponibilidade poderá ser inferior que que se considera ser o apropriado. Portanto, é um problema maior para quem se sente mais incomodado e a contribuição será maior da parte de quem está incomodado e tenha maior disponibilidade para ajudar.
A resposta será inferior à que muitos consideram desejável, e os incomodados quererão aumentá-la. Mas, os que podem e querem já contribuíram. Os que podem pouco, não poderão mais. E, em relação aos que não se sentem incomodados, é difícil dizer que o problema é deles.