Essa discussão sobre o Manoel de Oliveira também não é assim tão simples, pode-se dizer que ele fez muito pelo país, mesmo por quem nunca viu os seus filmes, pois contribuiu um pouco para o prestígio cultural do país. Daí não ser absurdo defender subsídios pagos pelos impostos de todos, mesmo por quem não gosta.
Se considerando que ele fez muito pelo país, então podemos constatar: com os apoios que ele recebeu seria de estranhar que tivesse feito pouco pelo país...
Fica é sempre a dúvida o que alguns outros realizadores poderiam ter feito pelo país caso tivessem recebido os apoios que ele (Manoel de Oliveira) recebeu...
Ou até se pode colocar a questão de outra forma: caso os apoios tivessem sido equitativamente distribuídos pela totalidade dos bons cineastas realizadores portugueses (não sei quais são nem quantos são porque isso implica... elege-los) qual ou quais de entre todos eles teriam feito muito pelo país, ou teriam feito muito, mais e melhor pelo país...
E muito pelo país na perspectiva da cultura "per sí" ou na perspectiva do que deve ser a cultura vista pelo Poder político?
O "eterno" Manoel de Oliveira.
São argumentos, os expostos.
Mas, pertinentes? No plano
político, possivelmente, sim.
No plano estético, não.
Mesmo que ninguém aprecie
Ingmar Bergman, pode sempre
dar-se, alguém ver seus filmes
e emocionar-se intelectual
em novo rumo.
Quero dizer: Einstein, a sonhar
no gabinete público de patentes
da Suíça, viajar à velocidade
da luz, mostrou a dependência
do observador na determinação
da simultaneidade de eventos
distintos. Percepção
tão individual quanto
universal o resultado!
Logo, como financiar
o que nasce individual
e se aplica universal?
Sopesar Bergman
versusos demais cineastas?
Censurar uma política de cultura
que vote Bergman ao ostracismo?
Aplaudi-lo porque alguns o admiram
e no estrangeiro recolhe aplauso,
logo melhora a imagem
cultural do país?
Indecidível.
Vale sim, quem discordar, afirmá-lo.
Quem gostar, mostrá-lo.
Esta questão, lembra-me
a
Esplanade Avenuede New Orleans. Mansões
americanas do séc, XIX.
Todas diferentes umas
das outras, embora
de estilo semelhantes.
Óbvio resultado de
preferências individuais
de cada proprietário.
E a Avenida tem carácter
e beleza, aos olhos de
bisnetos e trinetos!
É difícil decidir politicamente
entre intelectuais e estetas
a apoiar ou não. Mas pode
sempre denunciar-se
a abjecta indiferença
de políticos incultos.