A questão que eu defendo não é a sustentação de o trabalho de sonho de outro, mas sim que o Estado (com dinheiro dos impostos, sim) assegure um bom ensino público tanto obrigatório como o universitário, mas cujo acesso seja obviamente através do mérito, como aliás acontece em geral. É fornecendo as ferramentas (ensino e formação) que o Estado promove a oportunidade de alguém trabalhar naquilo que quer, e com "fornecendo" incluo que seja assegurado o acesso mesmo a quem não tem dinheiro para pagar propinas ou alojamento.
Isso já é algo diferente. Já agora, quem tira cursos superiores em média ganha mais que os restantes. Portanto, estes poderiam ser vistos como um investimento nos próprios. Portanto, poderiam ser financiados, em vez de serem ajudados a fundo perdido.
Isso já depende da forma de pensar politicamente. Eu prefiro que isso seja visto como um investimento do país em si próprio, nos seus activos que são a sua população, que mais tarde terá mais formação e produzirá mais, terá maior massa crítica, ajudará a economia a crescer e a tornar o próprio país mais desenvolvido. Para além disso, ao investir na formação universitária de uma pessoa, essa pessoa receberá mais e consequentemente pagará mais de IRS, levando a um maior retorno. Ou isso ou criará uma empresa que pagará IRC. E por aí fora. Nestas coisas basta pensar de preferíamos ter um país politicamente mais próximo dos EUA ou da Alemanha, para não dizer Dinamarca e outros nórdicos.
Considero no entanto que o preço das propinas até poderia ser mais elevado se houvesse reduções de preço em função das notas, mais bolsas de mérito e sociais, e claro, muito mais alojamento universitário. O conceito de campus universitário praticamente não existe em Portugal (se é que existe sequer). Ah, e defendo que, fora justificações muito restritas, o preço das propinas deveria subir exponencialmente nos anos a mais que um aluno se demorasse a terminar o curso. Mas para isso teriam que ser criadas condições para que alguém sem recursos para estudar não tivesse que trabalhar para pagar o curso, prejudicando obviamente o seu rendimento académico.
Essa forma de pensar inclui implicitamente um "eu acho isto porreiro, vamos por os outros que não beneficiam directamente deste custo a pagar os que beneficiam pessoalmente, porque -- inserir bom motivo --".
Como as pessoas só vivem uma vez, os seus recursos são finitos e não existe 100% de certeza sobre a maioria dos bons motivos, isso é intrinsicamente injusto e converte quem sujeito a custos líquidos num escravo a tempo parcial.
Caro Incognitus, mas isso já estamos a entrar no conceito do que é um país, uma nação, um povo que é responsável pela sua descendência. Normalmente as pessoas mudam e melhoram os países para que a vida dos seus descendentes seja melhor. Cada geração vai empurrando sempre um pouco isto para a frente, e por isso é que hoje vivemos melhor que há 200 anos e ainda melhor que há 1000 anos. E por isso é que os nossos netos viverão melhor que nós (esperemos).
Não pensar assim, a meu ver, é não pensar em comunidade, em Humanidade, mas sim pensar em si próprio apenas e só, não interessando nada mais.
Sim, as pessoas empurram isto para a frente, isso é claro. Mas não, não é claro que isto seja empurrado para a frente por se criarem mais e mais escravos a tempo parcial. Certamente que pensas que eliminar escravos a tempo total foi uma boa ideia, não? Então porque é que depois pensas que a tempo parcial já é bom?
Nota que muito do que vais defender pode igualmente ser implementado por um grupo de pessoas que o faça voluntariamente. Portanto aqui a única questão real é: porque é que achas que têm que existir pessoas forçadas a isso?
Neste caso específico, se existe tanta gente que defende que os cursos devem ser financiados "pelos outros", porque não um grupo aplicar essa regra (e apoiar todos os que nele participam), e a outro ser-lhe permitido cada um pagar o seu, existindo emprestimos?
Há aí uma nuance qualquer que te faz pensar que depois de achares algo desejável, esse algo tem que ser imediatamente obrigatório, em vez de ser possível coexistir com as alternativas. Dir-se-ia que terias medo que afinal o apoio prático para o que achas desejável não seja tão alargado quanto pensas, na realidade. Nota que alguém que defenda a alternativa NÃO tem esse medo implícito.
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Dito de outra forma, eu acho que o melhor sistema seria cada um pagar o seu via empréstimo (se não tivesse recursos). PORÉM, não vejo obstáculo nenhum a que um conjunto de pertença voluntária muito alargado decidisse financiar os alunos pertencentes a esse conjunto. Nota que esta solução não se pode aplicar, por alguma razão, na tua forma de pensamento.
E dito isto, eu neste momento até beneficio em termos líquidos de serem todos obrigados a financiar a coisa.