Bom, agora que te vês confrontado com análises factuais sobre o regime de terror, e sobre um número de vítimas que ascende a vários milhares, entre mortos, torturados e aprisionados por um regime que em momento algum deixou que a população escolhesse o que pretendia, a tua posição muda alguma coisa face a este ditador? [ ]
Aceito o desafio de tomar uma posição sobre o regime de Cuba no pressuposto da repressão política que terá exercido sobre oposicionistas, incluindo o fuzilamento após julgamento sumário quer de insurgentes quer de mera opinião e instigação à oposição.
E digo, sem rebuço, o regime é de condenar. Obtempero, no entanto, a consideração destes pontos: i) inicialmente, a revolução lutou contra e depôs um regime corrupto e sanguinário; ii) nisso, a sua acção foi politicamente louvável e o país prosperou, senão materialmente, pelo menos em dignidade, instrução e felicidade genuína; iii) o governo revolucionário sofreu constrangimentos constantes face ao bloqueio dos estados unidos, o que afectou o seu desenvolvimento potencial; iv) o país foi vítima de tentativas de invasão e derrube do governo por emigrantes e forças do exterior; v) é provável, - e sucedeu real ou pressupostamente, como aceitei considerar -, que a oposição interna tenha grassado por toda a ilha ao que as autoridades terão respondido - responderam - com julgamentos sumários e fuzilamentos.
O regime de Cuba, no seu início, pôde beneficiar do êxodo dos reaccionários para os estados unidos. Mais tarde, depois de instalado no poder a governar, já não podia usar a mesma 'solução'. Prender, julgar e fuzilar não é solução admissível. O responsável supremo por tal abuso de poder é claramente da autoridade máxima, no caso Fidel de Castro. Eu percebo o que ele fez: conservou o poder, aniquilou os que se lhe opunham. É uma resposta política, sem dúvida. Na minha opinião moral e política, porém, é uma resposta inaceitável. Porquê? Porque ter enveredado por ela, bloqueou de vez o desenvolvimento do país e reverteu a população à miséria material e moral de que a revolução pretendeu libertá-la. Como tal, foi politicamente uma via desastrosa e criminosa.
Que outra solução poderia ter encarado?
Quanto a mim, duas, qualquer delas melhor do que a repressão criminosa. Uma via reformista, de abertura democrática a opiniões contrárias às do poder, ensaiando experimentalmente soluções aí propostas. Outra via, difícil, complexa, requereria muita habilidade e alguma sorte: iniciar uma revolução interna contra os próprios novos extremistas do regime, depondo-os e apoiando-se em elementos mais moderados, contendo os excessos de repressão dos insurgentes, e buscando linhas de entendimento que abrissem caminho a uma reforma controlada do próprio regime...
Nós, do Portugal pré-25 de abril, apercebemo-nos bem como esta segunda via é difícil, mas porventura indispensável como meio de um regime conseguir reformar-se e renovar... De qualquer modo, passar à selvajaria de assassínios pseudo-judiciais não é admissível, contraria e contradiz a revolução de Fidel de Castro contra a abominação da repressão política da ditadura de Fulgêncio Baptista que Castro depôs. Condenável. É que nem sequer é uma leal guerra civil de uns contra outros, forças que se guerreiam, vencendo a mais forte! É puro assassínio cometido pelo mais forte ao mais fraco, uma suprema cobardia, uma ignomínia.
Está respondido.
É esta a minha posição.
Mais uma vez, muito bem exposto, vbm.
Creio que em Portugal acabámos por ter sorte durante o processo de revolução, dada a contrapartida de "renovação" que apresentas, o da escolha de uma proposta social mais moderada e da condenação da hipótese mais extremista que o ímpeto "revanchionário" da convulsão necessariamente gerou - mas tenho a sensação de que a determinada altura estivémos por um fio. Pelo menos no que concerne a um derramamento de sangue volumoso
Não conheces o vbm. O vbm depois de dizer aquilo ainda estará, internamente, favorável ao Castro versus outros ditadores que foram muito melhores para o povo e mataram muito menos gente (vide, Pinochet). O vbm não muda facilmente de ideias.
"contraria e contradiz a revolução de Fidel de Castro contra a abominação da repressão política da ditadura de Fulgêncio Baptista que Castro depôs"
Não creio que o regime que antecedeu o de Castro fosse mais violento ou pior para o país, economicamente. Certamente, não teria levado a 40 anos de estagnação económica.
Nenhum regime que defendesse a existência de mercados livres e propriedade privada conseguiria esse feito.