O filme não era verdadeiramente a preto, mas sim a preto e preto. Portanto, com várias tonalidades de preto. Porém, a insensibilidade embrutecida da população em geral, atolada na sua carência crítica de educação cultural, certamente por falta de apoios, não lhe deixava ver estas nuances. Portanto, o filme versava sobre a forma como a realidade nos ilude com as nuances. A própria Branca de Neve, que geralmente deveria sobressair num tal cenário escuro, perde-se na penumbra, mostrando que nem o mais brilhante dos personagens é imune à escuridão que se abate sobre uma sociedade desprovida de valores culturais. João César Monteiro consegue, a espaços, quebrar esta tirania do negro, porém logo se volta a cair na escuridão, mostrando que alcançar um plano mais elevado, ver a luz, não é fácil nem é para todos.
No fundo, o filme acaba por atingir todos os seus objectivos, francamente ajudado por um orçamento para efeitos especiais, que, desta vez e em louvor do cinema independente Português, não se poupou a custos.