As Istorias do Clube da Trampa aka Carnide / Corrupçao
César Correia, o pai de Sandra e antigo árbitro, aproveitou os conhecimentos do mundo do futebol para se tornar fornecedor dos cavas catalães e dos champagnes franceses. (…)
Durante a infância e início da adolescência era um ferrinho no Estádio da Luz, a ver treinos e jogos, pela mão do pai. “Lá em casa sempre fomos todos do Benfica” conta [Sandra], recordando o dia em que foi expulsa da aula, em São Brás de Alportel, por estar a ouvir um relato radiofónico de um jogo do clube do seu coração numa quarta-feira europeia. (…)
[Sandra] admirava Carlos Manuel, Bento e Veloso, que conheceu pessoalmente quando acompanhava o pai árbitro. (…)
[Sandra] está desde pequena habituada a lidar com jornalistas – quando andava com o pai para todo o lado conviveu muito com veteranos jornalistas de A Bola e do Record. (…)
No fim do curso, fez um estágio no Record. (…)»
in Notícias Magazine (suplemento do JN e do DN), 04/12/2011
No que ao futebol diz respeito, a infância e adolescência de Sandra Correia, filha do ex-árbitro César Correia (se não estou em erro, o primeiro árbitro algarvio a chegar a internacional), é reveladora dos meandros de um certo período do futebol português. O pai, árbitro da 1ª categoria, levava-a consigo quando ia ver jogos e treinos (!!) do seu slb, apresentava-a aos craques encarnados e os dois conviviam animadamente com jornalistas de A Bola e do Record.
Passados 30 anos, estes episódios familiares, contados de forma descontraída, mostram como o futebol português era tão puro e transparente nos anos 60 e 70… De facto, não havia qualquer tipo de promiscuidade entre árbitros, dirigentes, jogadores e jornalistas…
Deste modo, talvez por desconhecer a enorme paixão que César Correia nutria pelo slb, ou então como prémio de carreira, a FPF nomeou-o para uma das finais da Taça de Portugal mais polémicas de sempre, na época 1979/80. Vale a pena recordar este jogo, realizado a 7 de Junho de 1980, em que adeptos do SCP e do Belenenses juntaram-se aos benfiquistas no Jamor e reeditaram o célebre BSB (Benfica - Sporting - Belenenses), unindo forças contra os portistas que rumaram do Norte.
Num jogo disputado praticamente em casa, e com o apoio da “união nacional”, o slb de Mário Wilson venceu o FC Porto de Pedroto por 1-0.
No final, o inesquecível Zé do Boné, para além de se queixar de uma grande penalidade sobre Fernando Gomes que César Correia não assinalou, disparou noutras direcções:
“Perdemos o Campeonato [para o SCP] e a Taça por causa dos 'penaltys' que ficaram por marcar. Se o prejudicado fosse o Benfica julgo que estariam já marcadas manifestações de rua, pedindo a demissão do Governo. O treinador do Benfica, com o ar esfíngico que lhe é característico, lançou a pedra e escondeu a mão, suplicando controlo anti-doping. Gostaria, contudo, que me fosse explicado o comportamento do jovem e talentoso Carlos Manuel que me pareceu, estranhamente, de cabeça perdida e que, na minha frente e nas barbas do fiscal de linha, agrediu Lima Pereira. O circo voltou a descer à cidade. O futebol é uma selva e vou sair dela”.
Mas voltando a César Correia, e já depois de largar o apito (não sei se durante a sua carreira terá recebido algum dourado ou de outras cores…), continuou ligado à arbitragem fora dos relvados.
Um dos serviços que prestou, presumivelmente como colaborador do slb (de quem haveria de ser?), foi o de acompanhar árbitros estrangeiros quando estes vinham arbitrar jogos à Luz, tendo sido visto com Marcel Van Langenhove na casa de diversão nocturna 'Elefante Branco', após o célebre slb x Marselha (o da mão de Vata).
Também a Liga de Clubes requisitou os bons serviços de César Correia, o qual, entre 2001 e 2009, presidiu à Comissão de Análise da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (comissão de avaliação de juízes e observadores).