Um pormenor curioso na análise aos falhanços do socialismo/comunismo é os seus defensores dizerem que foi feito pelas pessoas erradas ou que não foi bem feito. Ouve-se sistematicamente a mesma justificação, com a esperança de que "da próxima vez é que é !".
Nete caso não se tratou propriamente de um falhanço, ou por outra, os defensores do antigo regime que aparecem nos depoimentos nem sequer colocam a hipótese da queda se ter tratado de um falhanço, porque continuam a defender que esse (comunismo/socialismo) é o estilo de vida que pretendem. Atribuem a queda apenas a uma pessoa, Gorbatchov, que tratam como um traidor - a pessoa que trocou uma pátria forte, com convicções bem delineadas, por ideais capitalistas superficiais (dos jeans, do tabaco Malboro e das revistas pornográficas à venda nos quiosques de jornais) e vendeu a custo zero, aos EUA e ao ocidente, no momento de transição, os valores da nação. Ou seja, aqui não se tratou [do comunismo] de ter sido feito pelas pessoas erradas, tratou-se de apanhar uma pessoa errada no momento errado que decidiu erradicar o comunismo através de um movimento político pacífico, mas que apanhou todos despreveinidos.
Mas há de tudo - comunistas que defendem o Estaline, comunistas que detestam o Estaline, falsos comunistas que apenas pertenciam ao regime por medo (estes são de facto a maioria) e saltaram fora mal tiveram oportunidade (há relatos cómicos de devoluções em massa de cartões de partidário, que nem sequer eram entregues, atiravam-nos por cima do muro nas sedes, por vergonha de mostrarem a cara), entrevistas a altas patentes do KGB (que não revelam quem são), etc. etc.
O livro é muito bom também porque apresenta realmente todos os lados da questão - com pessoas de estratos identicos da população, idades e condições de vida semelhantes a defenderem ideias contrárias - umas a apoiarem a mudança para a "liberdade" (ainda que falhada) e outras a defenderem que a pobreza e o rigor totalitário do antigamente é que eram bons, porque ao menos nesse tempo ainda havia uma pátria forte - pobres, mas orgulhosos do seu país.
Há, contudo, uma grande diferença: enquanto que os falhanços do socialismo/comunismo deixam os países muito mais pobres, os 'falhanços' do liberalismo, ainda assim, deixam os países bastante mais ricos (há uma ou outra excepção, de facto, mas no socialismo/comunismo falhados nem excepções há - são todos pobres).
Acho que há imensas diferenças, ou melhor, que tudo é diferente, mas nem sequer vou discutir o que dizes - parece-me autoevidente, para além de comprovável pelos exemplos históricos.