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Que o Pacheco Pereira não sabe do que fala é óbvio quando fala do empobrecimento, algo cujas causas estão bem determinadas e cuja ocorrência era previsível em 2007/2009 como disse, e portanto independente de qualquer opção futura, incluindo opções futuras do Passos Coelho, que em 2009 nem sequer ainda liderava o PSD.
Bom. Li o teu artigo. Aceita os meus cumprimentos. Gostei. É o tipo de análise macroeconómica que aprendi há muitos anos nas aulas keynesianas de Economia II. Saudade.
Nota bene: não estou a criticar.
Mostraste bem o encadeamento de causas e efeitos, a tese do «consumo MÚLTIPLO do crédito inicial», no que apelidaste o «círculo virtuoso». Depois, formada a «Bolha de crédito da economia», - que não ergue outro coisa que o 'consumo antecipado' -, mostras como forçosamente se lhe segue o «círculo vicioso», após a contracção do crédito, por diminuição do endividamento, - até então confundido com "desenvolvimento"-, e como tal, a 'perfeita' demonstração do empobrecimento actual, efeito mecânico, inevitável, «mesmo que Passos Coelho não tivesse nascido»:))
Bom. Eu para enunciar aqui coisas mais interessantes de polemizar, confesso, teria de pensar mais, reflectir, ler, estudar, ver números examinar detalhes. Não posso fazê-lo, porventura não o conseguiria.
Mas concordo que, por muito que na verdade aprecie o enquadramento intelectual e filosófico de muitas das (ou quase todas) intervenções de Pacheco Pereira, elas jamais substituirão validamente uma análise macroeconómica séria como a que utilizas no teu artigo de 2007, porventura pertinente para o nosso caso na situação de 2009.
Tenho no entanto uma observação crítica a fazer(-te) e propor(-te) uma questão.
A observação é 'de sistema', segundo o que percebo do teu modo de abordar estas questões: omites, ignoras, não contas com o
governo. A cadeia de causas-efeitos que relevas, com brilho e verdade, nada diz sobre o governo e o que o governo fez, não fez, o que impediu e o que deixou fazer. Repara que toda a análise do caso baseia-se em Keynes e aquilo que chamaste um «círculo virtuoso» parece-me um «círculo estéril» e o inevitável, mecânico, efeito vicioso que se lhe segue, nada tem de surpreendente nem de desculpabilizante da inépcia do governo seguinte. Keynes só defendia a expansão de crédito em economias de elevado desemprego e capacidade produtiva ociosa, por anemia de procura. Nunca propôs tal esquema para «animação de negócios» e aumento de lucros!
A pergunta, oriunda do teu «abstencionismo» quanto a intervenção governamental, é a seguinte: - Não te parece que teria sido indicado o governo, os ministros das finanças de cada governo de países com a economia numa fase de «bolha de crédito», que esses Estados deveriam ter emitido obrigações de tesouro, a juro generoso, contrariando a excessivamente baixa da taxa de juro, arrecadando fundos, nem que fosse para simplesmente os subtrair à circulação monetária e de crédito bancário, forçando a poupança dos particulares, diminuindo os depósitos na banca, condicionando, constrangendo, o crédito a viabilizar investimentos produtivos, em vez da inane «bolha imobiliária» ou de consumo de bens importados? Não se teria conseguido assim, em vez do círculo que apelidas de «virtuoso», - que a mim sempre me pareceu «vicioso», de um keynesianismo de "casino" para elevar lucros financeiros de curto prazo - não se teria conseguido um verdadeiro «círculo frutuoso»?
{Naquele teu modelo de 2007, se o Tesouro emitisse obrigações e arrecadasse fundos que congelasse, o que fariam os bancos perante a preferência da população em poupar em vez de gastar, não obstante as empresas estarem financiadas a baixo juro para investir? Não iria haver uma selecção a favor de investimentos de maior retorno? Ou achas que se precipitaria uma recessão não obstante a animação subjacente? Eu não consigo dedicar-me a especular teoricamente que efeitos poderia ter uma política de governo contra-cíclica que tivesse sido aplicada, mas é a falta dessa análise que censuro no teu artigo.} {E considero que desde Sousa Franco não tivemos entre nós nenhum ministro das finanças condigno a uma política económica e financeira lúcida.} {E o Victor Gaspar é culpado, sim, não impôs a reforma do Estado, central e autárquico, nem deixou o Álvaro Santos Pereira acabar com os monopólios rentistas da banca (PPPs), petróleo, electricidade, distribuição alimentar, etc.}