Acontece que esse juízo de valor parece todo informado por lhe terem ido à reforma régia, já que esta administraçâo não parece incompetente, espoliadora ou arrogante.
Não parece incompetente porque está apenas a equilibrar o que os governos anteriores desequilibraram - se incompetentes existiram foram os anteriores e aí o senhor provavelmente não estava tão revoltado. Não parece espoliadora no sentido de que não tira apenas em impostos - também corta reformas régias e afins. É claro que alguma coisa terá que espoliar para atingir o equilíbrio, mas isso é mecânico. Arrogante é subjectivo, mas parece muito menos arrogante um governo que diz as coisas mais realisticamente do que um que doura a pilula.
Aprecio as tuas intervenções porque sempre apresentas os argumentos dos teus enunciados. Não discordo que o governo anterior foi incompetente, só que este segue-lhe as pisadas, não por estar a obrigar à redução do consumo quer público quer das famílias, mas por não fomentar o emprego nas actividades agrícolas, em todas as formas mercantilistas de substituição de importações; e não expropriar os accionistas da falência fraudulenta do BPN; e não fechar o Banif; e não promover o desinvestimento e a absorpção do BCP por outro banco.
Portanto, embora concorde que a população tem de "pagar" a crise, discordo que o exemplo não seja dado pelo próprio governo, inclusivé em medidas de propaganda espectacular como, entre outras, desmobilizar a frota automóvel. Quanto a "não dourar a pílula", acho muito bem, mas insuficiente: - para além de dever dar o exemplo de severidade e rigor, deveria manter-se em conversação persistente com as forças políticas e sociais mais activas do país, incluindo quer as universidades quer a igreja, as misericórdias e as autarquias no sentido de estimular a solidariedade e a coesão social. Em reflexo desse empenho político efectivo, a sua força negocial frente aos credores estrangeiros seria muito superior e mais convincente: para obter a consolidação dos empréstimos contraídos em dívida consolidada em
perpetuidades de juro moderado.
Todo este diferente
modus actuandi pressupõe e acompanha-se de uma projecção de interesses, integrados com os estrangeiros, em formas de trabalho de real utilidade económica como, por exemplo, a exploração plataforma continental, pesquisa de petróleo, o transporte marítimo, a pesca, a floresta, a agricultura.