Sem se conhecerem os planos de pagamento, são contas de mercearia mas, mais milhão menos milhão, o grande sucesso da compra de 3000 milhões de euros a 5,11% corresponde a um aumento da dívida pública na casa dos 153 milhões.
É esta a parte do preço de uma coisa que ninguém sabe exactamente o que será, mas que leva o epíteto de “saída limpa”, e que se soma a anteriores “sucessos”.
Mas apesar de tanto “sucesso”, há fortes contradições no discurso e nos factos, o que indicia que algo vai mal no reino da Dinamarca.
Em 09/01/2014:
Com nove dias passados no ano, o Estado português ficou esta quinta-feira, depois de uma emissão de dívida a cinco anos, com apenas 17% do total do financiamento que precisa para 2014 por garantir.
(…)
Depois de verificadas as propostas, as Finanças decidiram emitir dívida no montante de 3250 milhões de euros [a cinco anos], suportando uma taxa de juro de 4,657%.[P]
Hoje, 11/02/2014:
Miguel Frasquilho afirmou que Portugal “ficou com as necessidades de financiamento para a este ano quase totalmente cobertas” com a emissão de 3 mil milhões de euros de dívida pública a dez anos realizada hoje, em que “a procura superou três vezes a oferta” e a taxa de juro “andará à volta de 5,1% [5.11%, mais exactamente]“. [P]
É notório que a bota não bate com a perdigota.
◾Em Janeiro, com a emissão de 3250 milhões de euros, faltaria 17% do financiamento para 2014 (666 milhões). Hoje foram emitidos 3 mil milhões de euros e as necessidades continuam apenas “quase totalmente cobertas”.
Conclui-se uma de duas coisas: ou o governo está a emitir muito mais dívida do que precisa para dar azo ao plano eleitoralista que se adivinha ou então está a mentir quanto às necessidades de financiamento, sendo preciso mais do que anuncia.
◾Em Janeiro, a emissão de dívida a 5 anos teve juros de 4,657%, o que foi aclamado como o reconhecimento internacional da política seguida mas hoje, na emissão de dívida a 10 anos, os juros foram 5.11%, quando as emissões a prazos mais longos têm tipicamente juros mais baixos.
Resulta daqui o óbvio. Em Janeiro não existiu reconhecimento internacional algum quanto às políticas do governo, tendo havido, sim, uma baixa no preço do dinheiro em toda a Europa. O que se confirma com a emissão de hoje, a 10 anos, com uma taxa muito superior à emissão de Janeiro, a cinco anos.
A estratégia eleitoral que o governo está a traçar, tudo para isso aponta, traduz-se em ter um pote de dinheiro disponível e em fazer passar a mensagem de estarmos tão bem que até vamos conseguir sair do programa da troika e ficarmos por nossa conta (e risco, já agora).
Claro que é uma estratégia com custos pois estamos a pagar juros mais altos do que devíamos estar. Hoje foram 153 milhões de euros. Isto dá quanto em reformas, cortes salariais e sobre-taxas de IRS? Ora, dá…, hmmm, bem, é fazer as contas.
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