interessa bem mais debater a honestidade ou a falta dela do que os ditos pergaminhos academicos
Às vezes vou a casa duma amiga minha beber uma caneca de chá. Digo-o assim porque, por mais tempo que passe, é sempre para um chá que ela me convida. Seja de manhã, à tarde ou à noite, telefona-me de vez em quando e pergunta-me se quero ir beber chá. Admito que, não sendo um grande adepto dessa bebida, gosto muito do que ela faz e bebo-a com uma dose acrescentada de prazer. Não sei como é que ela faz, mas sei que para além de mergulhar a saqueta com uma planta qualquer na água a ferver, acrescenta ainda mais alguns ingredientes. Canela é um deles.Há uns tempos, por qualquer motivo, acabou o assunto entre nós assim que ela me deu uma segunda caneca para beber. Eu tinha acabado de lhe dizer que gostava muito do chá dela, especialmente em noites frias como aquela, e ela tinha-me perguntado se eu queria aprender como é que se fazia.- Não. - Respondi.Não se sentiu ofendida. Calou-se, tal como eu, e encostou-se para trás no grande sofá da sala. Fez-se silêncio. Bebi todo aquele líquido saboroso em pequenos e delicados goles, para não fazer barulho. Não sei quanto tempo demorei, mas talvez uns quinze ou vinte minutos. O que eu sei é que foram quinze ou vinte minutos de tranquilidade total. Conseguia ouvir o respirar dela e, penso eu, o meu próprio bater do coração.Depois, quando a caneca chegou ao fim, lá lhe expliquei porque é que não queria aprender a fazer o chá.- Mesmo que me ensinasses a fazer este chá e mesmo que o conseguisse fazer da mesma forma, nunca ia ser igual. Já me habituei a bebê-lo aqui na tua casa, e é a estes momentos que eu associo este sabor e este conforto.Ela sorriu. Percebeu, ou fingiu perceber, o que eu lhe tinha dito. Despedi-me e saí passado pouco tempo. No caminho para casa, de mãos nos bolsos e o casaco apertado até ao queixo para me proteger do frio, fui a pensar em como é confortável ter momentos destes. Pensei que nunca na vida conseguiria explicar a alguém a sua importância, até porque dizer que um dos momentos especiais que se tem na vida é quando se vai beber chá a casa duma amiga, pode parecer bizarro.Foi nessa noite que decidi voltar a brincar com sons e experimentar fazer umas músicas. Estive até às quatro ou cinco da manhã a trabalhar e, assim que acabei, encontrei a minha amiga online no facebook. Mandei-lhe o mp3 por email e perguntei-lhe se ela conseguia ouvir tudo até ao fim.Esperei uns minutos. Os cinco minutos e três segundos que a música tem e mais um bocado, sempre a olhar para o espaço em branco onde as letras escritas por ela apareceriam supostamente em qualquer altura. Era como se estivesse a olhar para o futuro e ele não quisesse ser presente.Depois, por fim, ouvi o sinal de que tinha mensagem nova no facebook.- É esquisita! - escreveu. - mas eu gostava de saber fazer músicas assim.- Queres que eu te ensine a trabalhar com o software? - Perguntei.- Não.Não me explicou porquê.Via Não compreendo as mulheres
CitarÀs vezes vou a casa duma amiga minha beber uma caneca de chá. Digo-o assim porque, por mais tempo que passe, é sempre para um chá que ela me convida. Seja de manhã, à tarde ou à noite, telefona-me de vez em quando e pergunta-me se quero ir beber chá. Admito que, não sendo um grande adepto dessa bebida, gosto muito do que ela faz e bebo-a com uma dose acrescentada de prazer. Não sei como é que ela faz, mas sei que para além de mergulhar a saqueta com uma planta qualquer na água a ferver, acrescenta ainda mais alguns ingredientes. Canela é um deles.Há uns tempos, por qualquer motivo, acabou o assunto entre nós assim que ela me deu uma segunda caneca para beber. Eu tinha acabado de lhe dizer que gostava muito do chá dela, especialmente em noites frias como aquela, e ela tinha-me perguntado se eu queria aprender como é que se fazia.- Não. - Respondi.Não se sentiu ofendida. Calou-se, tal como eu, e encostou-se para trás no grande sofá da sala. Fez-se silêncio. Bebi todo aquele líquido saboroso em pequenos e delicados goles, para não fazer barulho. Não sei quanto tempo demorei, mas talvez uns quinze ou vinte minutos. O que eu sei é que foram quinze ou vinte minutos de tranquilidade total. Conseguia ouvir o respirar dela e, penso eu, o meu próprio bater do coração.Depois, quando a caneca chegou ao fim, lá lhe expliquei porque é que não queria aprender a fazer o chá.- Mesmo que me ensinasses a fazer este chá e mesmo que o conseguisse fazer da mesma forma, nunca ia ser igual. Já me habituei a bebê-lo aqui na tua casa, e é a estes momentos que eu associo este sabor e este conforto.Ela sorriu. Percebeu, ou fingiu perceber, o que eu lhe tinha dito. Despedi-me e saí passado pouco tempo. No caminho para casa, de mãos nos bolsos e o casaco apertado até ao queixo para me proteger do frio, fui a pensar em como é confortável ter momentos destes. Pensei que nunca na vida conseguiria explicar a alguém a sua importância, até porque dizer que um dos momentos especiais que se tem na vida é quando se vai beber chá a casa duma amiga, pode parecer bizarro.Foi nessa noite que decidi voltar a brincar com sons e experimentar fazer umas músicas. Estive até às quatro ou cinco da manhã a trabalhar e, assim que acabei, encontrei a minha amiga online no facebook. Mandei-lhe o mp3 por email e perguntei-lhe se ela conseguia ouvir tudo até ao fim.Esperei uns minutos. Os cinco minutos e três segundos que a música tem e mais um bocado, sempre a olhar para o espaço em branco onde as letras escritas por ela apareceriam supostamente em qualquer altura. Era como se estivesse a olhar para o futuro e ele não quisesse ser presente.Depois, por fim, ouvi o sinal de que tinha mensagem nova no facebook.- É esquisita! - escreveu. - mas eu gostava de saber fazer músicas assim.- Queres que eu te ensine a trabalhar com o software? - Perguntei.- Não.Não me explicou porquê.Via Não compreendo as mulheresFazer chá é uma das coisas que me dá prazer. E bebe-lo com alguém. Há uns tempos bebia-o em casa da minha mãe. Agora gosto de faze-lo na minha.tal como vir aqui e ficar a ouvir música e a escrever. É como vir beber chá. Mesmo que não me respondam sei que me lêem. Venho beber chá.
e este?Adriano Celentano "Don't play that song"
neve depois da apanha da azeitona.
terça-feira, 12 de Fevereiro de 2013, 22:05:28 | noreply@blogger.com (Suzana Toscano)Sentia-se cada dia mais triste, não conseguia encontrar alegria ou conforto em coisa nenhuma, levantava-se de manhã com aquela espécie de névoa no espírito que a impedia de sorrir ou de chorar. Sentia-se excluida das rotinas que dantes a ocupavam e a família mais próxima, enredada em problemas, cansara-se de buscar junto dela as energias que já não tinha para dar. Procurava refúgio na quinta, lá longe, isolava-se, tratava da horta, das árvores, dos cães, sua companhia preferida, talvez porque via neles aquele afecto incondicional que se limitava a receber, sem esforço, os cães não lhe faziam perguntas, não se exasperavam com as suas angústias, lambiam-lhe as mãos e seguiam-na por todo o lado, com o seu olhar doce e meigo.Quem a ajudava a tratar da casa e da quinta, há muito desleixada, era o Senhor Oliveira, velho aldeão que nunca desisitira de abrir os portões, desbravar as ervas ruins da entrada, e amanhar uma leira para o seu sustento. Homem rude e de poucas falas, também ele parecia contagiado por aquela tristeza sem fim, chegava cada dia mais tarde, pesavam-lhe os braços para podar as árvores, já não ia à caça e surpreendia-o a abanar a cabeça de quando em quando, como que a arredar pensamentos sombrios.Um dia, o Senhor Oliveira chegou revoltado, patroa, a minha Joaquina foi despedida do lar onde trabalhava lá na vila, aquilo anda mal de finanças e ela era a mais velha, mandaram-na para casa e vai com Deus, que já não chega para ti. Ela não se conforma, a pensar na miséria da reforma, uma coisa de nada, mais a que hei-de ter um dia que me canse disto, e são mais dois a juntar aos pobres que por aí há. Mas eu, patroa, já disse, deixa Joaquina, não há-de ser nada, assim que nos virmos sem nada para comer penduramos a corda na árvore e acabamos com a vida, é para o lado que eu durmo melhor, se não vale a pena viver o melhor é morrer.A patroa ouviu-o silenciosa, seguiu-lhe com o olhar as mãos nodosas de trabalho a agarrar a enxada, notou-lhe o olhar líquido de lágrimas contidas e não estranhou aquela determinação tranquila. Então, disse-lhe: Olhe, Oliveira, antes que decida isso, traga uma corda e ensine-me a dar o nó certo, se me vejo aqui sem a sua ajuda e da Joaquina também não sei o que mais fazer.O Oliveira não respondeu, mas nesse dia comentou com a mulher que enquanto a patroa precisasse deles não haviam de a abandonar, sempre era uma razão para viverem, quem havia de dizer.via 4R